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25 janeiro 2015

LIMITAÇÕES - HAIKI

Limitações são o único conjunto de desafios dos princípios do xamanismo havaino cuja grafia é apresentada no plural dentro do círculo do ho´o hua. Haiki em havaiano corresponde à falta do talento esclarecimento, que distancia o ser humano do princípio kala, segundo o qual “não há limites”.

Serge king traça as limitações de uma forma objetiva, simplesmente dispondo, sem grandes detalhes, que não há limites na vida. Tal afirmação, para ele, enseja uma suposta força de superação diante de obstáculos apresentados. Esta forma de atuar pode ser útil em diversos segmentos, mas, por não enfatizar a reformulação de memórias, promove um cansaço pela exaustiva criação de situações semelhantes, onde se acionaria algum “antídoto ilimitado”. Ou seja, é uma espécie de tratamento ou método que substitui pensamento por outro pensamento, porém não altera a maneira básica de pensar.

Nos estudos elaborados por Sebastião de Melo, a partir do gradual clareamento de visão interior, despertado com as vivências do princípio ike - o mundo é o que se pensa que ele é - , a pessoa que enseja a jornada espiritual, isto é, aquela norteada pelo desenvolvimento integral rumo ao crescimento balizado pelas mudanças de padrão obtidas com a reformulação de memórias, sente e pensa o quanto está limitada em pensamentos, ideias, palavras e ações nas experiências diárias, do cotidiano.

Como, segundo pesquisas Huna, todo ser humano é formado por 3 espíritos que habitam seus corpos sombreados, todas (absolutamente todas) as situações experimentadas são produzidas pelo corpo,  que enlaça através de fios e cordões, isto é, forma teias de sombras representantes dos espíritos encarnados para aquilo que está fora, em constante adesão.

Muitas vezes, como que estivesse enjaulado diante de fatos estranhos ou até mesmo nadando num aquário redutor de ideias, que no fundo é o próprio corpo, pode-se perceber que os fatores limitadores, embora filtrem experiências, são carregados de frustração pela impossibilidade de uma vida plenamente saudável. Neste aspecto, os desejos imaginários entram em conflito com a aparente impossibilidade de se concretizar, o que gera confusão, enquanto consequência das limitações. Não se trata aqui da confusão como desafio do princípio makia.

Diante de nossa cultura vitimizante e dramática, que prega o medo e valoriza o sofrimento, nossos pensamentos assustados e acovardados facilmente se situam distantes de nosso eixo central, longe da morada espiritual interna, do íntimo núcleo de onde emana toda energia pessoal. Desta forma, a sombra do uhane compõe uma nuvem carregada sobre aquilo que o outro representa. Este outro, de uma maneira geral, pode ser sociedade, pessoas, coisas, tudo o que parece estar fora e domina a mente sofredora.

O resultado desta mecânica funcional deficitária (pensamentos e imaginação distantes que valorizam sobremaneira aquilo que parece estar fora), impede o funcionamento harmônico dos 3 espíritos em corpos sombreados, como consequência de mana insuficiente no próprio corpo (em partes ou aspectos importantes dele), surgindo dores em geral, doenças, psiquismo distorcido ou sentimentos obsessivos, que geralmente são tratados pela sociedade de forma isolada. Assim, costuma-se combater as consequências de determinada patologia e não se atinge a causa íntima que carece de mana vital.

Limitações pessoais são frutos de padrões estagnadores que resultam de talentos adormecidos no corpo, aptidões não colocadas em prática por diversos motivos, que são as causas interligadas dos desafios do ho´o hua. Os 3 espíritos em desarmonia causam timidez e inibição nas atividades diversas. O sujeito não age pela ausência de mana ou pelo descrédito em si mesmo, bloqueando a energia acumulada, não liberada para determinada atividade.

Nesta condição não esclarecedora, o uhane, acuado pelas limitações também impostas pelo mundo exterior, sente-se ainda mais acanhado. São as limitações sociais que tonificam as mencionadas limitações pessoais.

Limitações sociais são costumes, usos, regras, normas e leis impostas pela sociedade para tentar proporcionar um aparente equilíbrio entre as pessoas de determinada região, comunidade ou Estado. Podem ser propagadas também por doutrinas ou conceitos religiosos que prometem recompensas espirituais para manter as pessoas “na linha”, contudo, acomodadas no seu confortável degrau de frustração. Independente do julgamento se serem boas e úteis ou não, as limitações sociais enaltecem as limitações pessoais ou são suas justificativas mais banais e enganadoras.  “Não faço isto, porque a sociedade não deixa”; “não faço aquilo, porque minha religião não permite”.

Existem também as limitações espaciais, que são fatores da natureza que nos limitam. Leis físicas que impedem a experiência plena do corpo no mundo exterior. Representam a moldura de todas as limitações por conta de sua abrangência. São representadas pela gravidade, aceleração, espaço/tempo, temperatura e outros conceitos limitadores de ação, aos quais estamos sujeitos. Em momentos de plenitude, flashs do espírito de aloha ou profundidade oriunda do estado alterado de percepção, é possível, mesmo que por instantes, romper tais barreiras de limitação, como prova esclarecedora de que tudo é possível e de que a separação é apenas uma ilusão útil.
Estaremos sempre limitados em nossa passagem por ao, isto é, sujeitos a filtros que nos impedem de ações absolutas, por termos nos afastado da grande teia aka para desenvolver nossa ilusória individualidade. Não poderíamos visualizar as cores do arco-íris se não tivéssemos o parâmetro limitador de cada energia luminosa, e o mesmo ocorre com todas as sensações gravadas no unihipili e classificadas pelo uhane, que valoriza ou não cada experiência. No entanto, dentro deste conjunto de fatores que nos limitam, a percepção de que é possível reformular memórias no sentido de esclarecer que nosso corpo é um complexo filtro que busca instintivamente se purificar, apesar de não saber exatamente como, é a passagem natural do unihipili para o comando do desenvolvimento e crescimento espiritual, com a colaboração do uhane, aproximando-se da linguagem intuitiva, sem dar importância aos pensamentos alheios ou a ser tido como louco por uma sociedade que finge não ser insana.


Nelson Gonzaga Bueno

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