LIMITAÇÕES
- HAIKI
Limitações são o único
conjunto de desafios dos princípios do xamanismo havaino cuja grafia é
apresentada no plural dentro do círculo do ho´o
hua. Haiki em havaiano
corresponde à falta do talento esclarecimento, que distancia o ser humano do
princípio kala, segundo o qual “não
há limites”.
Serge king traça as
limitações de uma forma objetiva, simplesmente dispondo, sem grandes detalhes,
que não há limites na vida. Tal afirmação, para ele, enseja uma suposta força
de superação diante de obstáculos apresentados. Esta forma de atuar pode ser
útil em diversos segmentos, mas, por não enfatizar a reformulação de memórias,
promove um cansaço pela exaustiva criação de situações semelhantes, onde se
acionaria algum “antídoto ilimitado”. Ou seja, é uma espécie de tratamento ou
método que substitui pensamento por outro pensamento, porém não altera a
maneira básica de pensar.
Nos estudos elaborados por
Sebastião de Melo, a partir do gradual clareamento de visão interior,
despertado com as vivências do princípio ike - o mundo é o que se pensa que ele é - , a pessoa que enseja a
jornada espiritual, isto é, aquela norteada pelo desenvolvimento integral rumo
ao crescimento balizado pelas mudanças de padrão obtidas com a reformulação de
memórias, sente e pensa o quanto está limitada em pensamentos, ideias, palavras
e ações nas experiências diárias, do cotidiano.
Como, segundo pesquisas Huna,
todo ser humano é formado por 3 espíritos que habitam seus corpos sombreados,
todas (absolutamente todas) as situações experimentadas são produzidas pelo
corpo, que enlaça através de fios e
cordões, isto é, forma teias de sombras representantes dos espíritos encarnados
para aquilo que está fora, em constante adesão.
Muitas vezes, como que
estivesse enjaulado diante de fatos estranhos ou até mesmo nadando num aquário
redutor de ideias, que no fundo é o próprio corpo, pode-se perceber que os
fatores limitadores, embora filtrem experiências, são carregados de frustração
pela impossibilidade de uma vida plenamente saudável. Neste aspecto, os desejos
imaginários entram em conflito com a aparente impossibilidade de se concretizar,
o que gera confusão, enquanto consequência das limitações. Não se trata aqui da
confusão como desafio do princípio makia.
Diante de nossa cultura
vitimizante e dramática, que prega o medo e valoriza o sofrimento, nossos
pensamentos assustados e acovardados facilmente se situam distantes de nosso
eixo central, longe da morada espiritual interna, do íntimo núcleo de onde
emana toda energia pessoal. Desta forma, a sombra do uhane compõe uma nuvem carregada sobre aquilo que o outro
representa. Este outro, de uma maneira geral, pode ser sociedade, pessoas,
coisas, tudo o que parece estar fora e domina a mente sofredora.
O resultado desta mecânica
funcional deficitária (pensamentos e imaginação distantes que valorizam
sobremaneira aquilo que parece estar fora), impede o funcionamento harmônico
dos 3 espíritos em corpos sombreados, como consequência de mana insuficiente no próprio corpo (em partes ou aspectos importantes
dele), surgindo dores em geral, doenças, psiquismo distorcido ou sentimentos
obsessivos, que geralmente são tratados pela sociedade de forma isolada. Assim,
costuma-se combater as consequências de determinada patologia e não se atinge a
causa íntima que carece de mana
vital.
Limitações pessoais são
frutos de padrões estagnadores que resultam de talentos adormecidos no corpo,
aptidões não colocadas em prática por diversos motivos, que são as causas
interligadas dos desafios do ho´o hua.
Os 3 espíritos em desarmonia causam timidez e inibição nas atividades diversas.
O sujeito não age pela ausência de mana
ou pelo descrédito em si mesmo, bloqueando a energia acumulada, não liberada
para determinada atividade.
Nesta condição não
esclarecedora, o uhane, acuado pelas
limitações também impostas pelo mundo exterior, sente-se ainda mais acanhado.
São as limitações sociais que tonificam as mencionadas limitações pessoais.
Limitações sociais são costumes,
usos, regras, normas e leis impostas pela sociedade para tentar proporcionar um
aparente equilíbrio entre as pessoas de determinada região, comunidade ou
Estado. Podem ser propagadas também por doutrinas ou conceitos religiosos que
prometem recompensas espirituais para manter as pessoas “na linha”, contudo, acomodadas
no seu confortável degrau de frustração. Independente do julgamento se serem
boas e úteis ou não, as limitações sociais enaltecem as limitações pessoais ou
são suas justificativas mais banais e enganadoras. “Não faço isto, porque a sociedade não
deixa”; “não faço aquilo, porque minha religião não permite”.
Existem também as limitações
espaciais, que são fatores da natureza que nos limitam. Leis físicas que
impedem a experiência plena do corpo no mundo exterior. Representam a moldura de
todas as limitações por conta de sua abrangência. São representadas pela
gravidade, aceleração, espaço/tempo, temperatura e outros conceitos limitadores
de ação, aos quais estamos sujeitos. Em momentos de plenitude, flashs do
espírito de aloha ou profundidade
oriunda do estado alterado de percepção, é possível, mesmo que por instantes,
romper tais barreiras de limitação, como prova esclarecedora de que tudo é
possível e de que a separação é apenas uma ilusão útil.
Estaremos sempre limitados
em nossa passagem por ao, isto é,
sujeitos a filtros que nos impedem de ações absolutas, por termos nos afastado
da grande teia aka para desenvolver
nossa ilusória individualidade. Não poderíamos visualizar as cores do arco-íris
se não tivéssemos o parâmetro limitador de cada energia luminosa, e o mesmo
ocorre com todas as sensações gravadas no unihipili
e classificadas pelo uhane, que
valoriza ou não cada experiência. No entanto, dentro deste conjunto de fatores
que nos limitam, a percepção de que é possível reformular memórias no sentido
de esclarecer que nosso corpo é um complexo filtro que busca instintivamente se
purificar, apesar de não saber exatamente como, é a passagem natural do unihipili para o comando do
desenvolvimento e crescimento espiritual, com a colaboração do uhane, aproximando-se da linguagem
intuitiva, sem dar importância aos pensamentos alheios ou a ser tido como louco
por uma sociedade que finge não ser insana.
Nelson
Gonzaga Bueno