Aquilo que muitas vezes
denominamos como “projeto de vida” é o conjunto de anseios que buscamos
alcançar através das situações que se desenvolverão na existência. Porém,
nossas limitações permitirão apenas a realização de parte deste aglomerado de intenções,
já que morreremos desejando algo (nem que seja a própria morte).
Tal paradoxo nos mantem
aqui vivos ou sobreviventes, dependendo da intensidade dos apegos. Quanto mais
apegado se está, menos vivo se sente e maior refém se é do mundo onde se
sobrevive.
Sonhos fantasiosos e
ambições desmoderadas, com tônica para o que é apenas socialmente valorizado,
projetam a utopia de felicidade para o futuro aparentemente seguro:
“Se eu conseguir isto,
serei feliz... Se comprar aquilo, terei paz...”
Com este raciocínio
simplista, enfatizado pela grande comunicação de massas, nos engajamos desesperadamente
na luta para conquista do mundo desejado (ou pelo menos de parte dele).
Para tanto, muitas vezes
mentalizamos proteção superior, representações divinas e toda sorte de amuletos
que possam nos auxiliar na materialização de nossas vontades. No sentido
postulante da palavra, o ser humano contemporâneo continua a ser um bom
macumbeiro: oferece algo para obter sucesso nesta troca, se realizando
parcialmente no sistema de posses.
A busca desenfreada faz
com que nos esqueçamos de que a vida já começou e não será unicamente consolidada
com os resultados almejados. Esta inversão que caracteriza a corrida pelos
desejos, representada no "projeto de vida", faz com que nos tornemos cada vez
mais carentes. Observamos o presente e nos lançamos ao plano futuro, na
ilusão de que, com a vitória sobre as coisas e pessoas, aí sim viveremos de
fato.
A mente rápida, categórica
e esperta, quando assustada pelas oscilações que estremecem o mundo exterior,
nos dá a impressão de que “sem isto ou sem aquilo” – algo que estamos apegados
sem perceber – não viveríamos.
Assim, cegos pelos
desejos, estamos continuamente perdidos na dualidade deste plano, embasados no
passado e norteados para o futuro, estagnados pelo prazer anestésico de cada
dia, que somente altera cenário e figurino do presente (ausente).